Hoje
em dia a coisa mais comum é ouvir alguém dizer, “você come muito”, “você tem
compulsão” ou até mesmo pessoas julgando ter compulsão por um alimento ou por
comida, muitas vezes exclusivamente porque gosta.
Ouvir
esse tipo de discurso preocupa-me, pois está colocando em pé de normalidade (de
forma deturpada) algo grave, que precisa de tratamento especializado, com
equipe multiprofissional.
Precisa ficar claro que a compulsão alimentar é uma doença
psiquiátrica (assim como anorexia, bulimia, depressão entre outras).
Ela é definida como: “ingestão,
em um período limitado de tempo, de uma quantidade de alimentos definitivamente
maior do que a maioria das pessoas consumiria num período similar, sob
circunstâncias similares, em velocidade mais rápida que o habitual, com
sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar durante o episódio”.
Os sinônimos para a palavra compulsão são: coação, obrigação
e constrangimento. Se pensarmos nestas palavras e na definição acima já dá para
diferenciar o ato de alguns comportamentos normais na alimentação, como
exagerar em uma festa, repetir um prato que estava muito gostoso ou gostar
muito de comer chocolate.
A doença ocorre em apenas 2% da população, mas apensar disso
tem sido colocada como corriqueira e comum.
Mas porque será que estamos todos nos achando compulsivos?
Já falei aqui sobre como o excesso de informações, muitas vezes negativas, sobre os
alimentos nos deixa confusos. Penso que o mesmo tem acontecido com a compulsão.
Ouvi a nutricionista Fernanda Pisciolaro (uma especialista em
transtornos alimentares) explicando em uma entrevista (confira o vídeo daentrevista aqui) que como hoje ouvimos muito dizer que não podemos comer esse
ou aquele alimento, que certo alimento faz mal, engorda, mata...as vezes só o
fato de comer uma porção normal do alimento tido como proibido (ex: 1 fatia de
bolo confeitado ou 1 prato de feijoada) já faz com que as pessoas achem que
estão compulsivas (quando na verdade elas apenas sentem culpa – o que não é
positivo nem normal, mas é muito diferente de ter compulsão).
O que acontece também quando comportamentos restritivos são
impostos (proibindo-se de comer certos alimentos) é que em algum momento você “não
aguenta mais” não comer certo alimento, nesta ocasião acaba ingerindo uma
quantidade maior do que comeria normalmente (se esse alimento não fosse
proibido). Isso acontece porque muitas vezes se está comendo por todas as vezes
anteriores que não se permitiu comer E
pelas vezes que não irá comer mais daqui para frente (quando vem o pensamento
“é a última vez, depois volto para a dieta”).
Nesse contexto julgar-se compulsivo, não ajuda.
Precisamos diminuir o julgamento sobre nós mesmo e sobre os
alimentos, entendendo que em um comer
normal todos os alimentos têm oportunidade de aparecer, em quantidades
variadas dependendo da ocasião, da fome, do sabor...e quanto mais você permitir-se,
de verdade, saborear os alimentos, menor será a necessidade de come-los em
excesso.
É claro que essa transformação não acontece do dia para
noite, mas conhecer e entender seus comportamentos e escolhas alimentares pode
ajudar muito. Ter um bom profissional nutricionista para guia-lo neste caminho é
bastante útil.